sábado, 17 de maio de 2008

É só fumaça?










É só fumaça? M. Gouveia - Sexta-feira, 16 Maio, 2008


À primeira vista, o incidente do cigarro de Sócrates não merece mais que um título “Se fumar mata, o ridículo também”.Mas vejamos: houve uma denúncia sobre esta prevaricação do primeiro-ministro. Houve alarde em toda a comunicação social. Sócrates fez uma contrição pública. Não serão alarmantes sintomas de que estamos numa sociedade vigiada, hipócrita e moralista? E de que o exercício público da política está a ser intencional e subreptíciamente substituído por uma cultura telenovelesca para desviar a atenção dos cidadãos dos verdadeiros problemas e assim os reduzir a espectadores passivos de uma medíocre farsa, encenada para esconder a tragédia que se passa nos bastidores e de que eles são as vítimas?As palavras de Sócrates neste episódio, não nos fazem lembrar nada?“Estava convencido de que não estava a violar nenhuma lei nem nenhum regulamento. Lamento e peço desculpa, não voltará acontecer”. São as mesmas palavras que utiliza para justificar a violação das promessas eleitorais: quando as fez “estava convencido de que era outro o estado real do país”. Enganou os eleitores (ainda não pediu desculpa mas lá chegaremos) e agora promete que não voltará a acontecer.Quando faz promessas sobre a sua vida privada (“Decidi deixar de fumar”), encolhemos os ombros e pensamos: “Não temos nada com isso. Nem sequer é possível fiscalizar o cumprimento da promessa. E nada acontece se a não cumprir”. Damos por nós a achar bem que alguém se tenha lembrado de fazer queixa do primeiro-ministro, neste país de polícias e ladrões. Damos por nós a achar bem que a comunicação social ocupe tanto espaço e tempo com este assunto para que fiquemos bem informados sobre os nossos governantes. Damos por nós a discutir se ele deve ou não pagar multa, imbuídos de respeito pelas leis. E até damos por nós a simpatizar com este seu “rosto humano” de quem viola regras por um pequeno prazer e, qual menino de coro apanhado em falta, pede desculpa e promete não mais voltar a pecar!“Este episódio despertou-me para o facto de os fumadores, inconscientemente, poderem violar leis e regulamentos que desconhecem”, disse. E a nós? o que é que nos desperta?Enquanto a maioria, inconscientemente, se deixa levar em brincadeiras, há uma minoria que não brinca em serviço. Com ou sem fumaça.


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